quarta-feira, 24 de setembro de 2008

O Nevoeiro // The Mist

Mila: Enfim conseguimos nos encontrar para falarmos do polêmico "O Nevoeiro". Você estava meio relutante em assistir, mas depois se rendeu à polêmica, não é?

Vitor: Não. Nem sabia da polêmica. Não vi antes porque não tive oportunidade. Mas queria ver sim. Gostei. Foi até melhor do que eu esperava. (Veja crítica aqui)

Mila: Parecia que você não estava muito interessado. Bem, como você gosta e conhece muito da parte técnica, comece fazendo as honras.

Vitor: O filme é do Frank Darabond, diretor que eu gosto. É uma adaptação de um conto do Stephen King. Ele já adaptou algumas obras antes. Fez “À Espera de um Milagre” e “Um Sonho de Liberdade”. No elenco tem o Tom Jane, que fez “O Justiceiro” e a Marcia Gay Harden que ganhou Oscar por “Pollock” e fez “Sobre Meninos e Lobos”, “Na Natureza Selvagem”, etc..

Mila: Diga-se, de passagem, que a atuação dela neste filme foi magnífica. O seu personagem é essencial. Comecemos: O filme trata de um nevoeiro que invade uma pequena cidade. Se passa dentro de um supermercado, onde várias pessoas ficam encurraladas.

Vitor: Justamente.

Mila: Dentre as pessoas que ficam presas estão soldados e civis, religiosos fanáticos e céticos, mulheres e homens, crianças e velhos etc. Uma mistura nada boa em tempos de guerra. Imagine em tempos de pânico e caos total. Nós telespectadores vemos a história assim como uma daquelas pessoas que se encontram lá dentro.

Vitor: Eu mesmo não. Eu via de fora e não queria por dinheiro nenhum estar ali dentro. E quando começa aparecer mosquito de Itu, é que eu não queria meeeesmo. Mas o filme é muito interessante para mostrar como as pessoas reagem à falta de ordem, à anarquia de fato. Eu vejo várias formas de se interpretar o filme.

Mila: Concordo plenamente. Algumas pessoas prestam atenção no que não é tão importante, no fato de na Terra não haver aqueles bichos e acham o filme ruim por ser “mentiroso”. Mas acontece que essas pessoas não entendem sobre o que é o filme.

Vitor: E é aí que entra a louca religiosa, que consegue ganhar fiéis dos devaneios dela através do desespero alheio.

Mila: Isso. Ponto chave da trama. E é aí que entra uma grande crítica também.

Vitor: Mas eu não gostei muito que a compararam com Fidel Castro. Pra mim ela tá mais pra direita cristã americana, tipo a imbecil da Sarah Palin.

Mila: Ué, eu não vi essa crítica. Ainda bem.

Vitor: É só uma citação rápida.

Mila: Concordo quanto à direita cristã e ainda acrescentaria os mulçumanos e seus homens-bomba. E também essas igrejas protestantes que só querem ganhar dinheiro. Tem uma a cada esquina. E sempre surgindo mais.

Vitor: Pra mim todas elas são um pouco disso. A igreja católica até a Idade Moderna era assim. Caça as bruxas e tal. Todas elas de uma forma são uma maneira de discriminar e vender falsas soluções para a vida das pessoas.

Mila: É um golpe muito baixo a religião se utilizar da fraqueza das pessoas para ganhar poder. Principalmente quando se usa a fé como arma, no sentido bélico da palavra mesmo.

Vitor: A maioria já foi assim. A dela não era algo puramente intencional, porque ela vivia naquela obsessão e acabou se envolvendo numa situação onde houve quem prestasse atenção nela, devido às circunstâncias. As igrejas das esquinas fazem isso por dinheiro mesmo. É muito mais maniqueísta e calculista.

Mila: Pois é. Cada qual com seu objetivo maquiavélico, seja ele financeiro, bélico, moral. Cabe a nós diferenciar o que da religião é bom e o que tem cunho manipulador. E também acho que a fanática do filme não fez por mal. A meu ver, ela já era meio louca e controladora. À proporção que as coisas vão acontecendo ela vai acreditando cada vez mais na sua própria loucura e consegue que outras pessoas, aterrorizadas, acreditem nela.

Vitor: É mais ou menos isso.

Mila: Sei que a gente não deveria falar do final do filme. Mas essa é a parte mais polêmica do filme, principalmente para aqueles que leram o conto do "King", pois o 'DaraBOND" mudou o final do conto.

Vitor: Ele só deu uma continuidade no final do conto. Sinceramente eu não gosto exatamente de nenhum dos dois. O do conto é ameno. Mas o do filme tem mais coisas a passar.

Mila: Bem, achei o final meio sem nexo, meio forçado. Destoou do filme. Ficou americano demais.

Vitor: Não achei americano não. Não é reconfortante, nem apoteótico. Nada hollywoodiano. Muito mais parecido com filme europeu.

Mila: Achei americano sim com todos os soldados salvando o "mundo". Mas eu já sabia que a gente ia divergir nisso e não vamos mais sair daqui. Passaremos dias e noites discutindo isso.

Vitor: Aham... Eu continuo achando o filme nada hollywoodiano. É indigesto. Pra mim irritava pelo pouco uso da inteligência das personagens.

Mila: Ah, essa parte nem me fale. Eu estava a ponto de me levantar e gritar. Deixa a gente numa aflição só.

Momentos de silêncio...

Vitor: Cadê tu? O bicho do nevoeiro te pegou?

Mila: (risos e mais risos) Ainda não. Era bem fácil ele me pegar, não ia nem precisar se abaixar, me pegava aqui na janela (moro no 10º andar).

Vitor: Depende, qual deles: o polvo, a aranha, o pterodátilo, o mosquito...

Mila: Pois é tinha que ser um que voasse ou um tiranossauro! Enfim, o filme é muito bom e desperta uma discussão muito boa, interessante e sadia.

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