sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Bastardos Inglórios // Inglourious Basterds

Mila: Assisti Bastardos Inglórios

Vitor: Gostou?

Mila: Achei massa. Adorei os acontecimentos. O filme começa na França ocupada pelos nazistas, onde uma judia, Shosanna, testemunha a execução de sua família pelas mãos do coronel nazista Hans Landa. Após uma ótima introdução com uma intensa conversa entre os personagens de Denis Menochet e Waltz, a jovem consegue escapar e foge para Paris, onde cria uma nova identidade como dona de cinema. Enquanto isso, também na Europa, o tenente Aldo Raine (Pitt) forma um grupo de soldados judeus para aterrorizar os nazistas. Conhecido por seus inimigos como Os Bastardos, o esquadrão de Raine se junta à atriz alemã e agente infiltrada Bridget Von Hammersmark em uma missão para derrubar os líderes do Terceiro Reich. E os destinos convergem para o cinema onde Shosanna está planejando a sua vingança.

Vitor: O filme é mais novo filme do Tarantino, tem vários atores famosos, tipo Brad Pitt, Diane Krüger e Mike Myers (numa pontinha), e alguns ilustres desconhecidos, tipo o Christoph Waltz, que tem a melhor atuação do filme. E eu já comentei sobre ele aqui. Gostei até o último terço, depois perdeu a graça...

Mila: E o filme acabou, né? Não dava pra ter mais graça.

Vitor: Nada disso. Depois tem em torno de meia hora de filme ainda. Muita coisa acontece. Achei sádico demais.

Mila: A cara dele.

Vitor: Esse foi mais exagerado. Perdeu o senso de humor. A maioria dos filmes dele a gente ri da violência, pelo aspecto inesperado e caricato dela.

Mila: Ué.... Kill Bill é assim também... Você não tava de bom humor porque eu mesma ri das “nojeiras” lá...

Vitor: Eu tava... E tava gostando. Até determinado momento. Aí depois morgou tudo. Dou 6,5 pra ele.

Mila: Dou 9,0. Adoreiii.

Vitor: Eu concordo com os críticos de Cannes, que não gostaram tanto assim dele também. Achei engenhoso, entretanto.

Mila: Tudo isso pela questão da violência?

Vitor: Acho que algumas coisas ali não precisavam acontecer.

Mila: Por que não? Vocês são um bando de frustrados (nada pessoal)... O cara escolheu fazer isso e você tem que analisar se o conjunto ficou bom, não o que você preferia que ele fizesse.

Vitor: Ué, tô analisando o conjunto! Ele não soube brincar. Tava brincando de chulipa e lascou logo a porrada.

Mila: Ele quis mostrar que numa guerra, os dois lados perdem. E na vingança também. Se você comete um crime, isso não prejudica só a vítima, prejudica você também. E tem ainda aquela história de que nenhum crime é perfeito, porque realmente não é... Sempre acontece algo inesperado. Você tá é dizendo o que ele deveria fazer...

Vitor: Ué! Pra melhorar o conjunto! Pra perder metade do exagero. Ele cruzou da linha do caricato e caiu no sádico. E não vem com essa "psicologia forense" porque não vem ao caso...

Mila: Despeitado! kkkkkkkk O filme realmente ficou sádico... Concordo plenamente... Mas essa foi a intenção e ele obteve o que queria: causar essa reação. Mas não é porque ele caiu no sádico que ficou ruim. Dentro sádico foi bom.

Vitor: Não ficou ruim. Mas nem bom também... E a reação foi perder o prêmio do festival? Porque quem se inscreve em festival normalmente é porque quer ganhar o prêmio.

Mila: E daí? As pessoas pensam diferente... Injustiças acontecem o tempo todo nessas premiações. Além do mais gosto é que nem "..", cada um tem o seu. Não é porque antes ele era caricato que ele tem que continuar sendo.

Vitor: Não, não precisa. Mas ele passou de uma coisa pra outra em um filme só... Eu acho que as citações, simbolismos e insinuações do filme são muito mais interessantes do que ele em si.

Mila: Concordo que as citações, os simbolismos e as insinuações são muito interessantes. Eita, vou ali um instante e a gente continua já o cunversê...


+ de 1 hora depois...


Vitor: Ligeiro!

Mila: Sim... Continuando e lhe respondendo. Acho que o interessante é o conjunto, uma coisa sem a outra perde a graça.

Vitor: Elementar, minha cara, lógico! Mas elementos prejudicam o conjunto. Tipo uma casa belamente decorada com um elefante colorido no meio. Estraga tudo.

Mila: Ai Vitor, pelo amor de Deus o que é que tem de tão destoante assim no filme? Sinceramente não achei nada destoando. Ele quis ser sádico, mas colocou uma "gracinha" em algumas partes pra não ficar tão pesado. E o final foi perfeito. Já bastava a tensão do filme inteiro, no final ele simplesmente deixa a gente relaxar um pouco, mas só um pouco. Bem, achei o filme bom demais da conta e olha que nem sou tão fã do Tarantino. Gostei de Cães de Aluguel, mas nunca consegui assistir nenhum dos Kill Bill todo, sempre durmo antes de acabar. Nunca assisti Pulp Fiction. E gostei do Kill Shot que foi apenas produzido por ele.

Vitor: Enfim, a cena mais engraçada é o Brad Pitt falando italiano. O “arrivederci” dele já é histórico. E a cena plasticamente mais bonita é a judia passando maquiagem.

Mila: A cena mais engraçada é essa mesmo. Mas enfim, não achei que ele quisesse realmente empregar um tom caricato ao filme. As risadas que ele causa servem para que o filme não fique chocante demais, do contrário ficaria muito indigesto. Já bastam os "20" Jogos Mortais que existem por aí! E os atores estão sensacionais. Adorei a Shosanna e o Hans Landa.

Vitor: O filme é caricato em si. Iguais a maioria dos outros dele. E o filme tem dois personagens claramente caricatos: o do Brad, e o Hitler (que eu achei dispensável. Ele podia ser só uma sombra que passava). Mas passa do ponto no terço final. Por isso que eu acho que perde a graça. Ele reescreveu a guerra de uma maneira que ficasse mais cinematográfica.

Mila: Ao meu ver, ele não reescreveu a guerra, reescrever seria pegar um acontecimento real e dar um outro enfoque a ele. Ele criou uma história fictícia dentro de um contexto real. Mas a história é fictícia. O Brad é caricato até certo ponto, pois se não fosse, as cenas em que ele aparece (geralmente cenas grotescas) ficariam muito pesadas.

Vitor: Ué, a guerra não foi um acontecimento real? E ele reescreveu o fim da guerra.

Mila: A Guerra foi, mas ele criou uma história que não aconteceu. Nem o fim da guerra se deu daquela forma, nem houve os bastardos até onde sei.

Vitor: Então ele reescreveu a historia da guerra. Deu outro rumo.

Mila: Até onde sei Hitler se suicidou. Pelo menos foi isso que aprendi.

Vitor: Sim. Seus argumentos só corroboram mais a minha tese...

Mila: Em que ponto eu estaria corroborando a sua tese? Como já disse, para mim, reescrever é dar outro enfoque apenas, pois ninguém pode voltar no tempo e mudar a história, reescrevendo-a.

Vitor: Ai, Jeová! Aurélio já!

Mila: Serve Larousse? "Reescrever = escrever outra vez." A história é totalmente fictícia. Ele usa um CONTEXTO que foi real sim. Mas a história é pura ficção. Reescrever é escrever uma coisa outra vez. Combinemos que ninguém pode reescrever um fato que já ocorreu modificando-o, pois para modificá-lo seria necessário voltar no tempo e revivê-lo para então mudar o seu rumo. Deixemos a história do reescrever de lado.

Vitor: Ué! Ele modificou a história. Dentro do filme. A Guerra aconteceu, ora pombas! Ele reescreveu a história da Guerra. Igual se ele escrevesse Chapeuzinho Vermelho onde ela tivesse um revólver e atirasse no lobo mau no meio do bosque. Ou então Cleópatra tivesse vivido “feliz para sempre” com Júlio Cesar. Não precisa ter uma máquina do tempo e mudar a história da humanidade. Ele pegou uma história real e deu outro rumo. Reescreveu o desandar da Guerra.

Mila: Não, ele criou uma história fictícia. Apenas não se deu o trabalho de criar um novo contexto, usou um já pronto que foireal e amplamente conhecido.

Vitor: Novamente, todos os argumentos que você usou só evidenciam que ele reescreveu a história...

Mila: Meu filho, não vou ficar discutindo semântica com você. ;D

Vitor: Pois é! Pergunte a Dona Terezinha (avó dela, professora de português) que ela te explica.

Mila: Para mim, ele usou justamente o contexto da II Guerra Mundial para criticar o holocausto. E para satisfazer um desejo que, pelo menos eu teria se vivesse durante a Guerra. Minha frase no final do filme foi "O Tarantino se vingou por nós!".

Vitor: Enfim. Essa conversa já ficou chata. A gente briga da próxima vez falando de outro filme...